PLCS 38/39 (Outono 2022/Primavera 2023)
O Ensino das Literaturas em Português

“Era Ega Racista?” Orientação para a Interpretação dum Parágrafo d’Os Maias (1888), de Eça de Queirós, em Massachusetts

DOI: https://doi.org/10.62791/rnj51q55
Front Cover

Published 2023-07-13

Abstract

RESUMO: A interpretação das opiniões da personagem emblemática e excêntrica João da Ega do romance canónico queirosiano Os Maias resultou em respostas muito diversas e complexas à palestra pública de Vanusa Vera-Cruz Lima, intitulada “Is Eça de Queirós’s The  Maias  (1888)  a  Racist  Novel?”,  a  18  de  fevereiro  de  2021,  via  Zoom.  Ega  toca  em  feridas  históricas  e  cria  espanto  devido  às  suas  posições  liberais  e  revolucionárias  na  sociedade lisboeta da segunda metade do século XIX. Em relação à questão racial, Ega não  é  tão  progressista  como  noutros  dos  seus  tópicos  de  controvérsia.  Pouco  se  pode  estranhar  a  subsequente  e  pertinente  pergunta  de  um  estudante  de  licenciatura  da  Universidade de Massachusetts Dartmouth: “Era Ega racista?” Tomando esta pergunta como  de  pesquisa  (research  question)  e  no  quadro  da  imprescindível  liberdade  académica,  este  artigo  oferece  orientações  preliminares  para  o  prosseguimento  da  análise  racial  ao  clássico  Os  Maias,  rebatendo  objeções  a  esta  abordagem  interpretativa,  através, por exemplo, do contexto histórico e da ironia.

PALAVRAS-CHAVE: Eça de Queirós, Os Maias, análise racial, racismo, João da Ega, interpretação, ironia, contexto histórico

ABSTRACT: The  interpretation  of  the  views  expressed  by  the  emblematic  and  eccentric  character  João  da  Ega  in  Eça  de  Queirós’s  canonical  novel  The  Maias  resulted  in  very  diverse  and  complex  responses  to  a  public  talk  by  Vanusa  Vera-Cruz  Lima,  entitled  “Is  Eça  de  Queirós’s  The  Maias  (1888)  a  Racist  Novel?,”  which  took  place  on  February  18,  2021,  on  Zoom.  Ega  probes  historical  wounds  and  provokes  amazement  of  late  nineteenth-century Lisbon society with his liberal and revolutionary positions. On the racial issue, Ega is not as progressive as on other controversial topics he addresses. No wonder, then,  that  an  undergraduate  student  at  the  University  of  Massachusetts  Dartmouth  could pose the following pertinent question: “Was Ega a racist?” Taking this query as a research question within the framework of indispensable academic freedom, this article offers preliminary guidelines for the development of racial analysis in the classic The Maias, rebutting objections to this hermeneutic approach that rely on notions such as, for example, the historical context and irony.

KEYWORDS: Eça  de  Queirós, The Maias,  racial  analysis,  racism,  João  da  Ega,  interpretation, irony, historical context