O Branco e a Branquitude: Letramento Racial e Formas de Desconstrução do Racismo
Published 2022-07-27
Copyright (c) 2022 LIA VAINER SCHUCMAN

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Abstract
RESUMO: O objetivo deste artigo é compreender e analisar como a ideia de raça e os significados acerca da branquitude são apropriados e construídos por sujeitos brancos, e principalmente focar-se na análise sobre possíveis formas de desconstrução do racismo nas identidades raciais brancas, o que tem sido designado no Brasil como Branquitude. A branquitude é entendida aqui como uma construção sócio-histórica produzida pela ideia falaciosa de superioridade racial branca, e que resulta, nas sociedades estruturadas pelo racismo, em uma posição em que os sujeitos identificados como brancos adquirem privilégios simbólicos e materiais em relação aos não brancos. A pesquisa de campo foi desenvolvida por meio da realização de entrevistas e conversas informais com sujeitos que se auto-identificaram como brancos de diferentes classes sociais, idade e sexo. As análises demonstraram que há, por parte destes sujeitos, a insistência em discursos biológicos e culturais hierárquicos do branco sobre outras construções racializadas, e, portanto, o racismo ainda faz parte de um dos traços unificadores da identidade racial branca paulistana. Percebemos também que os significados construídos sobre a branquitude exercem poder sobre o próprio grupo de indivíduos brancos, marcando diferenças e hierarquias internas. Assim, a branquitude é deslocada dentro das diferenças de origem, regionalidade, gênero, fenótipo e classe, o que demonstra que a categoria “branco” é uma questão internamente controversa e que alguns tipos de branquitude são marcadores de hierarquias da própria categoria. E ainda compreendemos que há, por parte de alguns sujeitos, um distanciamento entre a brancura da pele e o poder da branquitude, abrindo espaço para possíveis formas de desconstrução do racismo nas identidades raciais brancas.
PALAVRAS-CHAVE: Branquitude, Racismo, Antirracismo, Psicologia Social
ABTRACT: The goal of this paper is to understand and analyze how the ideas of race and whiteness are constructed and given meaning by white inhabitants in the city of São Paulo. Whiteness is understood as a socio-historical construction produced by the deceptive notion of white racial supremacy. In societies that are structured by racism, whiteness generates a situation in which individuals that are identified as white are given symbolic and material privilege in relation to those individuals considered not white. Field research was conducted through interviews and informal conversation with individuals from diverse social classes, ages and genders that self-identified as white. Our aim was to understand the heterogeneous character of whiteness in São Paulo. Analyses demonstrated that, for these individuals, biological and hierarchical cultural discourses remain as explanation to racial differences, and racism is still a structural element of the paulistano white racial identity. We also noticed that the social meaning that derives from the notion of whiteness operates in white individuals, indicating internal hierarchical differences. Whiteness is therefore dislocated and relocated in relation to social origin and class, regional, gender and phenotypical differences, which demonstrates that the category “white” is internally controversial, and that some kinds of whiteness are indicative of hierarchical power within it. And we also understand that for some individuals there is a distinction between the whiteness of their skin and the power of whiteness in itself, which opens up possibilities of deconstructing racism in the realm of white racial identities.
KEYWORDS: Whiteness, Racism, Anti-racism, Social Psychology