PLCS 42 (2024)
Articles

Tradition and Function in the Autos-da-fé of the Goa Inquisition

DOI: https://doi.org/10.62791/qbn8y973

Published 2025-05-14

Abstract

ABSTRACT: The decision to establish a branch of the Inquisition in Goa created a unique reality in the Portuguese empire: that of having an inquisitorial tribunal exerting jurisdiction over a majority of people who had recently converted to Catholicism in an entirely colonial setting. This tribunal operated within a society marked by efforts to convert and eradicate the visible signs of gentilidade, that is, the cultural, ritual, and material expressions of the world of the “gentiles.” The aim of this article is to analyze the practices of carrying out autos-da-fé in Goa that were affected by a series of features specific to the Estado da Índia. First, we address how the social-religious landscape of the Estado da Índia’s population led to changes in the Goa Inquisition’s attitudes toward religious offenses, which, in turn, generated a need to find alternative discourses for the legitimacy of the court’s own function—namely, in the auto-da-fé sermons. We then consider the variables of time and space in the celebration of these ceremonies and the challenges of implementing Portuguese parameters in Goa. Finally, we explore two of the main moments in this public ritual: first, the procession, which became a space for the promotion of secondary sectors of colonial society, and then the auto-da-fé itself, which had to balance the exaltation of inquisitorial action while recognizing the importance of the two main representatives of the Estado da Índia, the viceroy and the archbishop.

KEYWORDS: auto-da-fé; Goa Inquisition; idolatry; Judaism

RESUMO: A decisão de estabelecer um ramo da Inquisição em Goa criou uma realidade única no império português: a de ter um tribunal inquisitorial a exercer jurisdição sobre uma maioria de pessoas recentemente convertidas ao catolicismo num ambiente inteiramente colonial. Este tribunal funcionava numa sociedade marcada pelo esforço de conversão e erradicação dos sinais visíveis da “gentilidade”, isto é, das expressões culturais, rituais e materiais do mundo dos “gentios”. O  objetivo deste artigo é analisar as práticas dos autos-da-fé em Goa, marcadas por um conjunto de características próprias do Estado da Índia. Em primeiro lugar, abordaremos a forma como o panorama sócio-religioso da população do Estado da Índia conduziu a mudanças nas atitudes da Inquisição de Goa face aos delitos religiosos que, por sua vez, geraram a necessidade de encontrar discursos alternativos para a legitimação da própria função do tribunal, nomeadamente nos sermões dos autos-da-fé. Em  segundo lugar, consideraremos as variáveis de tempo e espaço na celebração destas cerimónias e os desafios da implementação dos parâmetros portugueses em Goa. Por fim, abordaremos dois dos principais momentos deste ritual público: por um lado, o cortejo e a forma como se tornou um espaço de promoção de sectores secundários da sociedade colonial; por outro lado, o próprio auto-da-fé e a forma como teve de equilibrar a exaltação da ação inquisitorial com o reconhecimento da importância das duas principais individualidades do Estado da Índia, o vice-rei e o arcebispo.

PALAVRAS-CHAVE: Auto-da-fé; Inquisição de Goa; Idolatria; Judaísmo