PLCS 33 (2020)
Essays

A Diáspora como Base da Identidade Cabo-Verdiana em Ilhéu dos Pássaros, de Orlanda Amarílis, e Chiquinho, de Baltasar Lopes

DOI: https://doi.org/10.62791/55kyby05

Published 2021-06-29

Abstract

RESUMO: As agrestes condições ambientais das ilhas do arquipélago de Cabo Verde dão o mote para a temática da emigração, justificada como escape a uma vida miserável de trabalho  árduo,  ameaçada  pela  fome.  A  identidade  cabo-verdiana  passa  pela  vivência  dessa realidade, sem, no entanto, estar restrita aos limites geográficos do arquipélago. De acordo com a interpretação de Bradley Smith, ser cabo-verdiano é assumir uma identidade  fundacionalmente  diaspórica,  caracterizada  pelo  hibridismo  da  mestiçagem  e  por uma condição de dupla consciência em reverso (subversão da tese de Paul Gilroy). Baltasar  Lopes,  em  Chiquinho,  e  Orlanda  Amarílis,  em  Ilhéu  dos  Pássaros,  usam  com  mestria o mote da emigração, abrangendo diversas fases de desenvolvimento do país e consequentes mudanças de mentalidade, pelo que apresentam visões distintas das possibilidades diaspóricas para lá das ilhas. Será igualmente dado destaque à importância da língua na formação da identidade nacional, através da competição do crioulo cabo-verdiano não só com o português-padrão, em contexto de ascensão social nos regimes colonial  e  pós-colonial,  mas  também  com  outras  línguas  estrangeiras  de  utilidade  em  contexto diaspórico, como o inglês ou o francês.

PALAVRAS-CHAVE: Identidade, Emigração, Diáspora Cabo-Verdiana, Crioulo

ABSTRACT: The harsh environmental conditions of the Cape Verde islands introduce the theme of emigration as a justifiable escape from a miserable life of hard work, threatened  by  starvation.  Cape-Verdean  identity  is  built  upon  the  experience  of  that  reality,  without  being  confined  to  the  geographical  borders  of  the  archipelago.  According  to  Bradley Smith’s definition, being Cape-Verdean means assuming a foundationally diasporic  identity,  characterized  by  hybrid  miscegenation  and  by  a  feeling  of  double  consciousness in reverse (subverting Paul Gilroy’s thesis). Baltasar Lopes, in Chiquinho, and Orlanda Amarílis, in Ilhéu dos Pássaros, skillfully use the motto of emigration in a broad sense, which encompasses different phases of country development and the mentality changes that follow, thus presenting distinct views of the diasporic possibilities beyond the islands. This article will also highlight the importance of language in the formation of national identity, through competition faced by creole against standard Portuguese (in the context of social mobility in colonial and post-colonial regimes) and other foreign languages, like English or French (useful in the diaspora).

KEYWORDS: Identity, Emigration, Cape-Verdean Diaspora, Creole